quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Ceará é o 3º do Brasil em doadores de órgãos


Clique para Ampliar
Vida salva: marceneiro Antônio Pereira Moura, 49 anos, passou por dois transplantes de coração
Clique para Ampliar
Estado está acima da média nacional em número de notificações de possíveis doadores, com 43,6 por milhão/hab
Vitórias a favor da vida. Ontem, dia 27 de setembro, foi o Dia Nacional da Doação de Órgãos e Tecidos, e os dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO) revelam que o Ceará tem muito o que comemorar. De janeiro a junho deste ano, o Estado foi classificado como o 3º do Brasil em número de doadores efetivos por milhão de habitantes, com 16,8 doadores, perdendo apenas para os estados de Santa Catarina com 25,6 e São Paulo com 20,2.

Os números também indicam que o Ceará está seis pontos acima da média nacional, que é de 10,5 doadores efetivos por milhão de habitantes. Comparando os últimos cinco anos, houve um crescimento significativo na média do Estado em número de doadores efetivos.

Segundo a ABTO, em 2007, o Ceará tinha 8,6 doadores por milhão da população; em 2008 era 10,3; no ano de 2009 a média subiu para 11,2; e em 2010 para 14,8 doadores.

E essa evolução não é demonstrada somente em números, pois a doação de órgãos representa vida. E foi diante dessa realidade que o marceneiro Antônio Pereira Moura, 49 anos, foi contemplado com dois corações. Em 1999, após sofrer acidente de carro, Moura ficou com sequelas no coração e precisou de um transplante.

O processo foi rápido e depois de três meses, ele foi transplantado com sucesso. Após a primeira vitória, o marceneiro casou e teve um filho que recebeu o nome de Juan, em homenagem ao médico que realizou a cirurgia.

Entretanto, depois de cinco anos, o coração, que já tinha um marcapasso, apresentou problemas e Moura precisou de outro transplante. A espera também foi curta e após dois meses ele recebeu um coração novo. E, após a recuperação do transplante, o paciente foi presenteado com outro filho, que recebeu o nome de Davi, também em homenagem ao médico responsável pela procedimento.

Segundo a coordenadora da Central de Transplantes do Estado, Eliana Barbosa, a busca por estatísticas melhores não pode parar. Até porque, segundo ela, a taxa de efetivação das doações no Estado ainda é baixa, ou seja, de todos os doadores identificados no Ceará, apenas 38% são efetivados. Conforme Eliana, o ideal era que essa taxa fosse no mínimo de 40%.

Outra problemática citada pela coordenadora é a pequena notificação dos possíveis doadores. O ato é realizado após o primeiro diagnóstico de morte encefálica, quando é aberto um protocolo e comunicado a Central de Transplantes. Segundo ela, o recomendado pela ABTO é que as notificações sejam sempre acima de 50 por milhão da população.

TRANSPLANTENegação da família é a 1ª causa da não efetivação
Perder um parente não é fácil, principalmente quando ele é jovem ou o óbito foi inesperado. Muitas vezes, a família não está disposta a doar os órgãos do ente querido. Para se ter uma ideia, no Ceará e em todo o Brasil, a negativa da família é a primeira causa da não-efetivação da doação de órgãos.

No Estado, segundo a Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), de janeiro a junho deste ano, 50 famílias entrevistadas optaram por não doar os órgãos dos parentes. No Brasil, o número de negativas chegou a 903.

No Ceará, as outras causas de não- efetivação foram a parada cardiorrespiratória, com 44 casos, a contraindicação médica, 18, e a morte encefálica não confirmada, com quatro casos.

Para Graça Torres, coordenadora da Comissão Intra-hospitalar de Doações de Órgãos e Tecidos para Transplantes(Cihdott), do Hospital Dr. Carlos Alberto Studart (Hospital do Coração de Messejana), a maneira mais eficaz para diminuir o número de não-efetivações no Estado é através do funcionamento durante 24 horas das Cihdotts em todos os hospitais com mais de 80 leitos.

Segundo ela, a comissão do Hospital de Messejana foi criada em setembro de 2005, entretanto, os frutos desse trabalho demonstraram uma evolução maior a partir de abril de 2008, quando a Cihdott passou a funcionar durante 24 horas.

"Temos muitos óbitos durante a noite e, por isso, é de fundamental importância a presença de um membro da comissão no hospital, pois quanto mais rápido for feito o diagnóstico da morte encefálica, mais doações serão realizadas", destaca.

Segundo Graça, a principal barreira para a realização das doações ainda é a negativa da família. Antes da formação da comissão, a abordagem aos parentes era quase impossível.

DOAÇÕESDoe de Coração incentiva solidariedade
"Já foi demonstrado que, a cada Campanha Doe de Coração, há um aumento do número de doações no Ceará". A afirmação é da coordenadora da Central de Transplantes do Ceará, Eliana Barbosa, que participou, na noite de ontem, de mesa-redonda promovida pela Universidade de Fortaleza (Unifor), por meio do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da instituição, para comemorar o Dia Nacional da Doação de Órgãos.

No evento, a comunidade acadêmica, além de saber como está o atual contexto da doação de órgão e tecidos no Estado, no Brasil e no mundo, pode aprender, de forma simples, sobre temas como desafios do atendimento de urgência e identificação dos possíveis doadores de órgãos; diagnóstico de morte encefálica; processo de doação de órgãos e de manutenção do doador e resultados no receptor. As palestras foram ministradas tanto por professores da Universidade de Fortaleza quanto por profissionais da Central de Transplantes do Ceará.

A mesa-redonda também foi uma forma da Fundação Edson Queiroz, que promove a Campanha Doe de Coração em parceria com o Sistema Verdes Mares, agradecer aos familiares dos doadores, responsáveis por salvar várias vidas a cada ano e fazer do Ceará referência nacional quando o assunto é transplante de órgãos.

Eliana Barbosa faz referência aos nove anos do Doe de Coração dizendo que "a campanha é um ato de amor, solidariedade e cidadania, sendo um dos fatores responsáveis por fazer que nosso Estado esteja acima da média de doadores efetivos, ocupando a terceira posição entre as outras unidades federativas do Brasil.

Embora os resultados do Ceará sejam bons, o número de doadores ainda é insuficiente para atender os pacientes da fila de espera, uma realidade que se reflete em todo o País.

Perfil
Na ocasião, também foi divulgado um estudo pioneiro no Ceará, realizado pelos alunos de Medicina da universidade, que traça o perfil dos doadores cearenses nos últimos dez anos. Segundo a pesquisa, 13,1% dos doadores têm de zero a sete anos; 33,1% de 18 a 30; 20% de 31 a 40; 11% de 51 a 60 e 4,7% com mais de 60 anos.

"A Unifor tem a preocupação de incorporar a Campanha Doe de Coração também no ambiente acadêmico, prezando pela humanização, técnica e ética desses futuros profissionais", diz a coordenadora do curso de Medicina, Olívia Costa Bessa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário